Queridos.

Já faz algum tempo que parti. Estava realmente muito doente, sofri duramente os males do corpo e fiz sofrer aqueles que dedicadamente cuidaram de mim.
Sei que fiz vocês perderem notes de sono, sei que incomodei com as idas e vindas aos  médicos e por fim sei que foi muito desagradável ficar daquele jeito, dependendo de vocês até para as minhas necessidades mais básicas.

Logo eu, que era tão orgulhoso e dono de mim. Só posso dizer, a todos vocês, meus queridos filhos, muito obrigado!

No final, como todos vocês, eu rogava pela morte. Tão logo ele desligou o meu corpo, ouvi um de vocês dizer: "Descansou, graças a Deus".
Ledo engano. Graças a Deus sim, mas o "descansou" ainda não aconteceu.

Não que eu esteja mal. No início, quando acordei aqui, logo senti meu corpo mais leve, sem feridas, sem dor. Tive vontade de pular de alegria. Mas aí veio aquela vontade, o infeliz vício que me levou ao túmulo e me perseguia além dele.
Onde, por aqui, achar cigarro e bebida?

Não me contentei com a abnegação dos benfeitores que me ajudaram na desencarnação e me trouxeram para este maravilhoso local de refazimento. Fugi, voltei à Terra imaginando ir para casa, mas cadê o caminho? Quem disse que eu acharia sequer uma pista?

Fui parar ora nos umbrais, ora atraído a locais barra pesada da Terra onde, com "sorte", consegui uma baforada de cigarro ou um pouco de bebida, obsediando os incautos e infelizes freqüentadores das baladas e noitadas sem fim.

Fiquei pior do que estava antes de morrer, qual louco a vagar sem rumo e sem amigos.

Foi duro, mas com a insistente ajuda da mãe de vocês, me resgataram uma segunda vez e aí criei algum juízo e lutei contra os meus vícios. Até agora, portanto, não descansei ainda e espero não descansar nunca, porque quero me recuperar e retribuir os favores que recebi, trabalhando pelo bem do próximo.

Fica aqui a minha mensagem: "Livrem-se dos seus vícios, enquanto eles estão em suas mãos. Sejam fortes."

Alaur.