Me pedem insistentemente para 
escrever o que sinto.
Não quero mas parece que não me deixarão ir se não escrever.
Pois bem.
Não quero estar aqui. Quero voltar pra casa. Entraram lá sem eu pedir e me 
convenceram a vir até aqui, me prometendo que iam dar o que eu precisava. Não me 
deram nada e não me deixam em paz.
Fantasmas que de repente surgiram e não me largam mais. Mal os vejo, ora 
esbranquiçados, ora transparentes. Mal os ouço, parecem zumbidos nos meus 
ouvidos. Pouco falam comigo.
Satisfeitos? Querem mais? Que 
mais posso dizer? Só quero ir e tentar entender por que ninguém mais parece 
querer falar comigo.
Não tenho idéia do que eu possa ter feito para que todos me tratem assim.
Até minha mãe...
Mesmo nas minhas maiores crises de abstinência, quando não tinha o que cheirar, 
ela sempre se aproximava de mim e me tratava bem. Agora não para de chorar e 
finge me ignorar.
O que mais eu fiz de errado? 
Tentei parar com as drogas e não consegui, a vontade de cheirar era sempre maior 
que eu.
Cada vez que eu parava os fantasmas me perseguiam, e só cheirando mesmo para 
eles me darem sossego.
Desta vez cheirei muito, muito mesmo. Mas os fantasmas não foram embora.
Só quero ir pra casa. Posso 
parar de escrever?
Deus? Nunca acreditei, nunca me ajudou, porque ajudaria agora?
Está me ajudando agora? Não vejo como.
Querem que faça uma oração? 
Nunca fiz, não sei como e não quero fazer.
Querem que agradeça? Tudo bem, depois posso ir?
Pois bem, muito obrigado e tenham uma boa noite!
Pronto, agora fui!
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